terça-feira, 21 de outubro de 2008

Encontro de Mulheres no Centro de Referência das Mulheres da Maré - CRMM/UFRJ

No dia 25 de Julho, Dia da Mulher Negra da América e do Caribe, o CRMM desenvolveu uma série de atividades para reflexão acerca das questões étnico-raciais que permeiam a vida das mulheres negras. Uma das atividades realizadas foi Contação de Histórias pelo Grupo Karingana Ua Karingana, representado por Silvia Carvalho, e pelo Grupo Cultural Vozes da África, representado por Sinara Rubia.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

FÓRUM DE MULHERES NEGRAS DE PETRÒPOLIS

Em 20 de setembro de 2008 realizou-se o 1° Seminário do Forum de Mulheres Negras de Petrópolis na UCP.
Às 9 horas, o Seminário teve abertura com a contação performática de história da Princesa Alafiá. Logo após, formou-se uma mesa para discutir os seguintes temas: Cultura, Educação, Trabalho, Saúde, Formação Política e Religiosidade. À mesa representantes de diversos setores: Sinara Rúbia do Grupo Cultural Vozes da África, Adriana Souza professora, Abigail Alves Páscoa de Souza militante militante.
As 16 horas organizou-se grupos de Trabalho para encaminharem propostas referentes aos temas discutidos.
Compareceram ao evento aproximadamente 150 pessoas mulheres.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

STEVE BIKO


Steve Biko




Biko foi assassinado há 30 anos. A 12 de Setembro de 1977, Bantu Steve Biko morreu em conseqüência de bárbaras torturas da polícia sul africana, do regime de apartheid. Biko era um jovem ativista negro - morreu com 30 anos - lutador contra o apartheid, dirigente estudantil e fundador do Movimento Consciência Negra.Biko, que dizia que "a arma mais poderosa nas mãos do opressor é a mente do oprimido", foi um defensor dos negros e da sua independência, face aos liberais brancos, na luta contra o apartheid na África do Sul. Nelson Mandela em 1997, no elogio a Steve Biko, afirmou: "Um dos grandes legados da luta que Biko travou - e pela qual morreu - foi a explosão do orgulho entre as vítimas do apartheid".A morte de Biko foi largamente denunciada no mundo, ampliando e elevando o combate ao regime do apartheid na África do Sul.
Bantu Steve Biko nasceu na cidade de King William em 18 de Dezembro de 1946. Estudou medicina na Universidade de Natal e tornou-se um activista estudantil. Em 1968, com outros companheiros de luta fundou a SASO ( South African Students' Organisation - Organização dos Estudantes Sul Africanos) rompendo com a NUSAS (National Union of South African Students - União Nacional dos Estudantes Sul Africanos), defendendo uma intervenção mais radical e criticando o predomínio e orientação dos liberais brancos na NUSAS. Biko, que foi o primeiro presidente da SASO, pretendia com esta organização desenvolver a participação dos negros, elevar o seu orgulho e actuar independentemente dos brancos. Para a SASO escreveu diversos documentos com o pseudónimo de Frank Talk.
Biko foi um dos fundadores do Movimento Consciência Negra, defendendo que o principal na luta contra o apartheid era a luta dos negros, a sua organização e mobilização, combatendo a dependência dos negros em relação aos liberais brancos.
Em 1972 fundou a Convenção do Povo Negro (Black People's Convention) e foi eleito seu presidente honorário. Também em 72 foi expulso da Universidade e passou a trabalhar em programas para a comunidade negra (Black Community Programs - BCP), participando na construção de clínicas, creches e no apoio aos trabalhadores negros.
Em Março de 1973 foi "banido" e proibido de sair da cidade de King William. "Banido" significava que não podia comunicar com mais de uma pessoa de cada vez, desde que não fosse da sua família, e não podia publicar nada, tal como os seus escritos anteriores não podiam ser divulgados ou citados. Apesar disso, dirigiu uma secção do BCP na sua cidade, mas posteriormente foi também proibido de ter quaisquer ligações com os programas da comunidade negra.
Não obstante a repressão de que era vítima, Biko criou em 1975 um fundo de apoio aos presos políticos e às suas famílias. As organizações que criou e apoiou, nomeadamente as organizações estudantis, tiveram um papel decisivo nos levantamentos do Soweto, em 1976.
Biko foi perseguido e preso por diversas vezes. Em 18 de Agosto de 1977 foi preso juntamente com o seu companheiro Peter Cyril Jones, acusados de desobedecerem às leis do apartheid. Biko foi barbaramente agredido e torturado numa prisão em Port Elizabeth o que lhe provocou uma hemorragia cerebral. A 11 de Setembro foi transportado para a prisão central de Pretória, onde morreu a 12 de Setembro.
O governo do apartheid primeiro afirmou que ele tinha morrido devido a uma greve de fome, posteriormente perante a gravidade visível das lesões na cabeça, afirmaram que se tentou suicidar, batendo com a cabeça. A Comissão de Verdade e Reconciliação criada após o fim do apartheid, não perdoou aos seus assassinos. Mas, em Outubro de 2003, o Ministério Público da África do Sul anunciou que os cinco polícias acusados do crime não seriam processados por falta de provas, alegando que faltavam testemunhas que provassem a acusação e considerando ainda que a possibilidade de acusação pelo crime de lesões corporais já tinha caducado.
A morte de Biko foi largamente noticiada internacionalmente pelo grande prestígio que granjeara, o seu funeral foi acompanhado por milhares de pessoas, estando inclusivamente presentes diversos embaixadores estrangeiros.
O assassinato de Biko tornou-se um símbolo da brutalidade do regime do apartheid. A sua vida, luta e morte tornaram-se amplamente conhecidos pelo trabalho desenvolvido por Donald Woods, um seu amigo jornalista branco, que fotografou o seu cadáver com os ferimentos e um ano depois publicou um livro, "Biko", descrevendo a sua vida e morte.
Em 1980, Peter Gabriel editou um álbum que incluía a canção "Biko", que se tornou um hino mundial contra o apartheid e que foi posteriormente cantada por outros artistas, como por exemplo Joan Baez.
Em 1987, Richard Attenborough realizou o filme Cry Freedom (Grito de Liberdade) sobre a vida de Biko e no qual a música de Peter Gabriel foi incluída na banda sonora,
Atualmente existe na África do Sul a Fundação Steve Biko (sbf.org.za/) que é presidida pelo seu filho Nkosinati Biko.
Retirado do site www.esquerda.net


Em 12 de setembro de 1977, o odioso e fascista regime do Apartheid assassinou um dos maiores lutadores contra a opressão dos negros da África do Sul, o militante Steve Bantu Biko. Preso em 6 de setembro de 1977, Biko foi submetido a brutais torturas pela polícia do Apartheid e acabou falecendo em conseqüências delas.
Para homenagear a sua memória e seu exemplo de luta pelo fim do regime de exploração e opressão instalado na África do Sul, o Grupo Cultural Vozes da África foi criado em 12 de setembro de 2003.
Nesta data, que marca os 31 anos da morte de Biko, queremos destacar a necessidade da luta organizada contra todos as formas de opressão e exploração, em particular a luta contra a opressão sobre os negros brasileiros e reafirmar que seguiremos o exemplo de Biko que deu a sua vida para construir uma sociedade livre de preconceitos, discriminação e sem exploração do homem pelo homem.
Grupo Cultural Vozes da África

terça-feira, 9 de setembro de 2008

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

MUMIA ABU-JAMAL UM REVOLUCIONÁRIO NO CORREDOR DA MORTE.



CONHEÇAM A HISTÓRIA DE UM REVOLUCIONÁRIO HÁ MAIS DE 15 ANOS NO CORREDOR DA MORTE
MUMIA ABU-JAMAL, NO LINK ABAIXO.
"Não basta minha morte, querem meu silencio".

segunda-feira, 7 de julho de 2008

AS FOTOS ABAIXO SÃO DA PARTICIPAÇÃO DO GRUPO NO LANÇAMENTO DO CD "RITMOS AFRO-BRASILEIROS"CASA "BRASIL MESTIÇO,EM 03 DE JULHO DE 2008.
ESSE EVENTO FOI REALIZADO PELO EMPÓRIO AFRO





quarta-feira, 18 de junho de 2008

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Grupo Cultural Vozes da África no assentamento Dandara dos Palmares

As fotos do dia 08/06/08 abaixo, são da oficina de Literatura infanto juvenil afrobrasileira com crianças do assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra, Dandara dos Palmares, no município de Campos dos Goytacazes.
A atividade iniciou-se com a contação de história da Princesa Alafiá, uma princesa africana, seguida da oficina de Cores e Formas Reconstruindo a História, com o objetivo de trabalhar a temática étnico/racial e a história da resistência à escravização dos africanos que fugiam para os quilombos.
Esse evento teve o apoio da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis.

quinta-feira, 12 de junho de 2008













terça-feira, 27 de maio de 2008


Mestre Kotoquinho e Sinara Rúbia no aquecimento para apresentação no Evento PÉ NA AFRICA em 30/04/08

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Grupo Vozes da África no Evento Pé na África.



O Grupo Vozes da África participou do evento Pé na África que ocorreu na Universidade Castelo Branco, em Realengo.
Na primeira foto: crianças da escola que participaram da proposta de oficina.
Na segunda foto: Conforme Sinara contava uma história da Mitologia Africana, as crianças a encenavam.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Entrevista com Sinara Rubia sobre Identidade etnica


Entrevista com Sinara Rúbia sobre Identidade Étnica.
Confiram no site abaixo no módulo UMA VOZ NA MULTIDÃO.

segunda-feira, 7 de abril de 2008



Mestre Kotoquinho na contação da História da Princesa Alafiá em Venda Velha/São João de Meriti em 05/04/08

Sinara Rúbia na contação da História da Princesa Alafiá em Venda Velha/São João de Meriti em 05/04/08

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Póxima participação do Grupo (Evento Pé na África)

O grupo cultural vozes da África participará do evento Pé na África, promovido pelo POJETO JONGO BANTO em 30 de abril de 2008, durante todo dia na Universidade Castelo Branco.Confiram a programação no site abaixo
http://www.jongobanto.com/festas_e_eventos.htm

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Performance Poética TON OGBON

Por meio de uma sensível interpretação do poema “ Quero ser Tambor ”, de José Craveirina, a performance poética “Ton Ogbon é uma junção precisa entre a dramaticidade do poema com ritmos e ritos africanos. Os Yorubas, um dos muitos grupos étnicos que vieram para o Brasil para serem escravizados, usam a palavra Ton para diáspora, propagar, investigar, irradiar, instigar e Ogbon para significar arte, inteligência, sabedoria, perspicácia e invenção.
A resistência das etnias africanas que vieram para o Brasil se deu por conta dos Fatores que estão no significado dessas duas palavras(Ton Ogbon).Fatores esses que contribuíram para a formação da cultura afro brasileira, onde a inteligência de povos, que eram proibidos de exercerem seus hábitos culturais cotidianos, permitiu a criação uma cultura de raiz africana, fenômeno este que caracteriza uma Resistência Cultural.
Essas etnias não só contribuíram para a formação cultural do Brasil, sua presença no fator econômico do país, por conta de sua mão de obra escrava foi determinante para o desenvolvimento do país.
Partindo de um trabalho performático, onde o corpo do ator é o resultado de imagens internas e externas criados durante a pesquisa, a intenção da performance é interpretar o poema“Quero ser Tambor” para provocar uma reflexão a respeito desse doloroso processo de escravização e notadamente a resistência desses povos bem como o surgimento da cultura afro-brasileira.

Contação da História da Princesa Alafiá
Através de movimentos de dança de origem africana e som de tambores a contação da História da Princesa Alafiá tem a intenção de trabalhar a auto-estima da criança negra, desconstruindo o conceito hegemônico de beleza, passado também pelas princesas brancas(Cinderela, Branca de Neve..).
Acredito que esse trabalho proporciona um ambiente lúdico e estimula a capacidade imaginativa do público e ao mesmo tempo contribui para a elevação da auto estima da criança negra, que está inserida de forma desigual e representada por meio de papéis sociais que reforçam os estereótipos que sustentam idéia de inferioridade do negro na sociedade.

O conto retrata a história de uma princesa negra que morava no reino de Daomé, no Continente Africano e que veio para o Brasil através do tráfico negreiro, no período da colonização portuguesa. Minha intenção ao escrever tal narrativa ficcional foi fazer frente à hegemonia dos contos de fadas conhecidos no Brasil, desconstruindo a ideologia de termos um único padrão de beleza valorizado, com o objetivo de elevar a auto-estima da criança negra brasileira.Está pautado nos vários aspectos históricos do período e mantém a mesma estrutura dos contos tradicionais: há uma princesa, mas negra, há o sofrimento, mas a princesa não necessita de um homem para resgatá-la, pois ela toma uma atitude impulsionada pelo seu “espírito” guerreiro e encontra um amor, mas a noção de felicidade é outra que não a de viverem felizes para sempre, imersos em riquezas, morando em um castelo.
A princesa Alafiá é uma princesa que "tem a pele negra como a noite, olhos grandes e escuros e crespos cabelos”.
Entendo que faz parte da luta pela afirmação de uma identidade que nos foi tirada e que tentamos reconstruir, a produção de uma literatura voltada para crianças e adolescentes, com o objetivo de influenciar à construção de suas identidades sócio-culturais. Pois nesse momento importante da formação da personalidade, ao se depararem com valores racistas ainda cristalizados em nossa sociedade, possam desenvolver símbolos próprios de auto – reconhecimento que elevem a sua auto estima.

Tranceir@s na II Semana da Consciência Negra de Petrópolis em novembro de 2007
Produção: Regina Guimarães
Sara aprendendo História da África e usando o lápis cor de pele PRETO!

quarta-feira, 2 de abril de 2008


Sinara Rúbia e Mestre Kotoquinho no evento do PROJETO DIREITOS HUMANOS EM TELA, do NEPP-DH, no Auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ em 19/03/2008.

Sinara Rúbia no evento do PROJETO DIREITOS HUMANOS EM TELA, do NEPP-DH, no Auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ em 19/03/2008.


Ilustração da Princesa Alafiá após a contação da História da Princesa Alafiá no FORUM SOCIAL MUNDIAL no Aterro do Flamengo em 26/02/2008


Crianças ilustrando a princesa Alafiá, após a contação da História da Princesa Alafiá no FORUM SOCIAL MUNDIAL no Aterro do Flamengo em 26/02/2008
Crianças ilustrando a princesa Alafiá após a contação da História da Princesa Alafiá no FORUM SOCIAL MUNDIAL no aterro do Flamengo em 26/02/2008


Grilo e Sinara na contação da História da Princesa Alafiá no FORUM SOCIAL MUNDIAL no Aterro do Flamengo em 26/02/2008


Contação da história da Princesa Alafiá no FORUM SOCIAL MUNDIAL no Aterro do Flamengo em 26/02/2008.

segunda-feira, 31 de março de 2008

A princesa Alafiá

Era uma vez uma princesa chamada Alafiá que morava no reino de Daomé no continente africano. Certo dia, durante uma festa na cidade da princesa, seu reino foi invadido por homens que possuíam armas de fogo. Apesar de todo povo ter lutado bravamente, não conseguiram resistir muito tempo, pois as armas dos invasores eram mais eficazes que o armamento do reino. A menina, seus pais, que eram rei e rainha da cidade e muitos de seus irmãos foram sequestrados para serem escravizados em uma terra muito distante.

Enfrentaram uma longa viagem marítima, dentro de um grande navio, empilhados como mercadoria, amarrados e espancados. Por causa desses maus tratos muitos deles morreram. Desembarcaram depois de muito tempo em uma terra bonita, mas não era a África que tanto amavam e eram felizes. Nesta terra Alafiá foi separada de seus pais. Esse momento foi muito triste, ela nunca esqueceu o rosto de sua mãe, que chorava muito, no momento da separação.

Quando a princesa chegou ao lugar chamado fazenda, juntamente com muitos de seus irmãos negros, foi escolhida para fazer companhia para uma menina que todos chamavam de sinhazinha. Sinhazinha tinha pele e olhos claros, cabelos compridos, usava belos sapatos e vestidos, era bela a menina. Alafiá tinha a pele negra como a noite, olhos grandes e escuros, crespos cabelos e era tão linda quanto sinhazinha.

O tempo foi passando Alafiá aprendeu a língua dos senhores da casa, assim como todos os outros escravizados. Crescia fazendo companhia para a menina e vendo seu povo sofrer de tanto trabalhar, apanhar e receber vários castigos. Ela nunca se conformava com àquela situação e desejava no fundo de seu coração, que todo aquele sofrimento terminasse, queria de fato, libertar a todos.

A princesa não esquecia de sua terra natal. Nunca esquecia das festas, das brincadeiras com outras crianças, das danças e principalmente do fato de ser uma princesa, uma princesa africana.

Quando Alafiá dizia a alguém que era uma princesa, todos riam e diziam que ela estava maluca, que não passava de uma mucama, além de não se parecer nada com uma. As pessoas diziam isso, porque as princesas que conheciam eram sempre de pele e olhos claros, longos cabelos, vestiam-se com belos sapatos e vestidos. Alafiá explicava que ela também era uma princesa e que todos os príncipes, princesas, reis e rainhas da África eram todos lindos e negros como a noite.

Com o passar do tempo Alafiá tornou-se uma linda mulher e sempre com o mesmo desejo: libertar seu povo. Descobriu que muitos de seus irmãos, não aceitando aquele tipo de vida, fugiam para um lugar chamado Quilombo, onde se refugiavam com outros escravizados que fugiam de outras fazendas. Alafiá procurou saber onde ficava o tal Quilombo e tomou uma séria decisão: que iria ao encontro de seus irmãos negros para lutar contra a escravidão.

Em uma bela noite, tão bela quanto Alafiá, a moça esperou todos dormirem, pulou a janela da grande casa, passou pela senzala onde dormiam os escravos e enfiou-se mata a dentro. Andou durante toda noite, de manhã parou para comer um pedaço de bolo e beber um pouco de água que levava consigo. Caminhou o dia todo, parou somente duas vezes para se alimentar, pois era muito forte e resistente.

Quando anoitecia novamente, Alafiá ouviu ao longe um som de tambores, semelhante ao que ouvia nas festas em sua terra natal e na senzala à noite quando o senhor da casa deixava os negros se reunirem. A moça seguiu animadamente a melodia, que vinha do alto de uma montanha. Quanto mais ela corria em direção ao som, mais ele aumentava.

De repente Alafiá chegou a um lugar onde todos dançavam felizes em volta de uma fogueira. No momento em que aquelas pessoas viram a moça, correram ao encontro dela, deram-na o que comer e deixaram que ela dormisse o resto da noite, pois estava muito cansada. De manhã Alafiá contou a todos sua historia, tudo que viveu até aquele momento. Passou daquele dia em diante, morar ali e tornou-se muito amiga e querida por todos.
Um jovem que era líder e guerreiro do Quilombo apaixonou-se por Alafiá e ela por ele. Aprendeu a lutar e cavalgar brilhantemente com o rapaz e cada vez mais apaixonados, casaram-se.

Todas as vezes que os guerreiros iam libertar outros irmãos, ou quando o invadiam o Quilombo para tentar exterminá-lo, Alafià lutava bravamente ao lado de seu esposo e com os outros guerreiros.

Apesar de muita luta e dificuldade, a jovem princesa sentia-se feliz, pois conseguiu levar a vida lutando por aquilo que acreditava, além de encontrar um grande amor.

Sinara Rúbia
http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/autor.php?autor=
http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/boletim/boletim_mostra.php?id=503&cat=49

Outras histórias da princesa Alafiá

Outras Histórias da Princesa Alafiá

A criação do mundo

A princesa Alafiá veio para o Brasil no navio negreiro junto com seus pais e muitos irmãos negros. Quando foi seqüestrada em sua Terra, o reino de Daomé, tinha apenas doze anos de idade. Ao chegar na fazenda, onde viria a ser escravizada, foi escolhida para viver como mucama de uma Sinhazinha. Alafiá sempre que podia ia até a senzala ver se algum de seus irmãos negros precisavam de ajuda, mas a princesa sabia que a grande ajuda que ela poderia dar seria liberta-los.

Alafiá vivia na Casa Grande, mas não se achava melhor que os escravizados que ficavam na senzala; ela sabia que era uma escrava também e o fato de comer e dormir melhor que alguns deles, não a tornava diferente. Quando completou 19 anos, a jovem fugiu para o Quilombo e foi viver junto das pessoas que não aceitavam aquele tipo de vida, que procuravam fugir e lutavam contra aquela opressão. No quilombo Alafiá era muito amiga e querida por todos, além de ser uma grande guerreira, pois lutava bravamente defendendo o Quilombo ou libertando escravizados.

Quando era noite, Alafiá reunia todas as crianças que moravam no Quilombo em volta de uma fogueira para contar histórias de sua terra. Alafiá dizia para as crianças que essas histórias passavam de geração a geração, de pais para filhos, dizia também que essa era uma forma de manter viva a memória de seu povo. Uma das histórias que não só as crianças, mas todos gostavam de ouvir, era a história da criação do mundo. A jovem contava que o Ser Supremo Olorum, que vivia no Orum, o céu, com seus filhos chamados de Orixás, ordenou a um de seus filhos Oxalá que criasse o mundo. Entregou-lhe um saco cheio de matérias e disse a ele que antes fazer a grande obra oferecesse um presente a Exu, orixá que tem o poder de mudar as coisas e sem a sua ajuda nada se cria. A caminho de executar o grande feito Oxalá pensou: “Daqui algumas horas vou criar o mundo e tudo que nele há, criarei também o homem e a mulher. Serei o Grande criador do mundo e da humanidade. Por que tenho que ficar agradando Exu?” - e foi embora sem presentear Exu, que ficou muito zangado com o descaso de Oxalá e resolveu dar um jeito de atrapalhar seus planos.

Na caminhada, Oxalá sentiu muita sede e não havia água por perto. Então Oxalá espetou a palmeira com seu cajado e tirou um maravilhoso e delicioso vinho. O grande Orixá bebeu além da conta, colocou o saco Criação no chão, deitou debaixo da palmeira e caiu num sono profundo. Naquele momento passava por ali Odudua, um outro filho de Olorum. Odudua sabia da grande missão de Oxalá e queria muito as glorias daquela missão. O irmão de Oxalá antes de sair de casa ofereceu presentes a Exu que logo tratou de recompensá-lo. Exu pegou o saco da Criação e o entregou a Odudua, que com as coisas que estava no saco, criou o mundo. Fez a terra, os minerais, os bichos, as plantas e tudo mais, enquanto Oxalá dormia embriagado.

Quando Oxalá acordou e se deu conta do que havia acontecido, correu até Olorum e contou como fora enganado por Odudua, o Criador do mundo. Olorum ficou muito aborrecido com Oxalá e lhe impôs vários castigos pela sua imprudência. Porém, o homem ainda não havia sido criado e então Olorum ordenou a Oxalá completasse a criação. Os homens se multiplicaram e povoaram o mundo e adoram Oxalá por tê-los criado. Ele é chamado de o Grande Pai. Mas, como castigo por sua falta de cuidado, Oxalá não pode beber vinho de palma, nem comer coisas extraídas da palmeira como azeite de dendê e nem comidas deliciosas feita com óleo da palmeira como: vatapá, caruru, acarajé, xinxim de galinha.

Depois que Alafiá contava uma de suas histórias, todos se reuniam em volta da fogueira e ao som de tambores dançavam num ritmo alucinante. Formava-se uma grande roda e todos acompanhavam com palmas e repetiam o coro. Dentro da roda sempre duas pessoas dançavam mexendo o corpo no marcado o ritmo com um dos pés. Sempre que uma pessoa de fora entrava para dançar, outra saía.

Eram assim as noites no Quilombo, depois de um dia de muito trabalho, planos, luta, resistência e sobrevivência. Nascia ali uma nova cultura, a partir da união de povos de língua e hábitos culturais diferentes e que tinham em comum o fato de terem sido raptados de suas terras no continente africano, a cor da pele e o som dos tambores.Sinara Rúbia

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