segunda-feira, 31 de março de 2008

Outras histórias da princesa Alafiá

Outras Histórias da Princesa Alafiá

A criação do mundo

A princesa Alafiá veio para o Brasil no navio negreiro junto com seus pais e muitos irmãos negros. Quando foi seqüestrada em sua Terra, o reino de Daomé, tinha apenas doze anos de idade. Ao chegar na fazenda, onde viria a ser escravizada, foi escolhida para viver como mucama de uma Sinhazinha. Alafiá sempre que podia ia até a senzala ver se algum de seus irmãos negros precisavam de ajuda, mas a princesa sabia que a grande ajuda que ela poderia dar seria liberta-los.

Alafiá vivia na Casa Grande, mas não se achava melhor que os escravizados que ficavam na senzala; ela sabia que era uma escrava também e o fato de comer e dormir melhor que alguns deles, não a tornava diferente. Quando completou 19 anos, a jovem fugiu para o Quilombo e foi viver junto das pessoas que não aceitavam aquele tipo de vida, que procuravam fugir e lutavam contra aquela opressão. No quilombo Alafiá era muito amiga e querida por todos, além de ser uma grande guerreira, pois lutava bravamente defendendo o Quilombo ou libertando escravizados.

Quando era noite, Alafiá reunia todas as crianças que moravam no Quilombo em volta de uma fogueira para contar histórias de sua terra. Alafiá dizia para as crianças que essas histórias passavam de geração a geração, de pais para filhos, dizia também que essa era uma forma de manter viva a memória de seu povo. Uma das histórias que não só as crianças, mas todos gostavam de ouvir, era a história da criação do mundo. A jovem contava que o Ser Supremo Olorum, que vivia no Orum, o céu, com seus filhos chamados de Orixás, ordenou a um de seus filhos Oxalá que criasse o mundo. Entregou-lhe um saco cheio de matérias e disse a ele que antes fazer a grande obra oferecesse um presente a Exu, orixá que tem o poder de mudar as coisas e sem a sua ajuda nada se cria. A caminho de executar o grande feito Oxalá pensou: “Daqui algumas horas vou criar o mundo e tudo que nele há, criarei também o homem e a mulher. Serei o Grande criador do mundo e da humanidade. Por que tenho que ficar agradando Exu?” - e foi embora sem presentear Exu, que ficou muito zangado com o descaso de Oxalá e resolveu dar um jeito de atrapalhar seus planos.

Na caminhada, Oxalá sentiu muita sede e não havia água por perto. Então Oxalá espetou a palmeira com seu cajado e tirou um maravilhoso e delicioso vinho. O grande Orixá bebeu além da conta, colocou o saco Criação no chão, deitou debaixo da palmeira e caiu num sono profundo. Naquele momento passava por ali Odudua, um outro filho de Olorum. Odudua sabia da grande missão de Oxalá e queria muito as glorias daquela missão. O irmão de Oxalá antes de sair de casa ofereceu presentes a Exu que logo tratou de recompensá-lo. Exu pegou o saco da Criação e o entregou a Odudua, que com as coisas que estava no saco, criou o mundo. Fez a terra, os minerais, os bichos, as plantas e tudo mais, enquanto Oxalá dormia embriagado.

Quando Oxalá acordou e se deu conta do que havia acontecido, correu até Olorum e contou como fora enganado por Odudua, o Criador do mundo. Olorum ficou muito aborrecido com Oxalá e lhe impôs vários castigos pela sua imprudência. Porém, o homem ainda não havia sido criado e então Olorum ordenou a Oxalá completasse a criação. Os homens se multiplicaram e povoaram o mundo e adoram Oxalá por tê-los criado. Ele é chamado de o Grande Pai. Mas, como castigo por sua falta de cuidado, Oxalá não pode beber vinho de palma, nem comer coisas extraídas da palmeira como azeite de dendê e nem comidas deliciosas feita com óleo da palmeira como: vatapá, caruru, acarajé, xinxim de galinha.

Depois que Alafiá contava uma de suas histórias, todos se reuniam em volta da fogueira e ao som de tambores dançavam num ritmo alucinante. Formava-se uma grande roda e todos acompanhavam com palmas e repetiam o coro. Dentro da roda sempre duas pessoas dançavam mexendo o corpo no marcado o ritmo com um dos pés. Sempre que uma pessoa de fora entrava para dançar, outra saía.

Eram assim as noites no Quilombo, depois de um dia de muito trabalho, planos, luta, resistência e sobrevivência. Nascia ali uma nova cultura, a partir da união de povos de língua e hábitos culturais diferentes e que tinham em comum o fato de terem sido raptados de suas terras no continente africano, a cor da pele e o som dos tambores.Sinara Rúbia

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