quarta-feira, 20 de novembro de 2013

ZUMBI DOS PALMARES: UM EXEMPLO DE RESISTÊNCIA



A história do Brasil, desde o início da colonização portuguesa, foi marcada por uma acirrada luta de resistência dos segmentos explorados (indígenas, negros) contra o regime colonial. Nesse sentido cabe destacar o período de 1530/1888, no qual a luta dos escravos negros contra a opressão e exploração tiveram uma grande relevância. De um lado proprietários de terras escravagistas e de outro uma grande massa de escravos. Para enfrentar essa situação os negros escravizados tiveram como principais armas as fugas e a organização de quilombos. A organização dos quilombos foi a principal forma encontrada pelos escravizados para enfrentar as opressões físicas, econômicas, culturais e morais impostas pelos portugueses (classe dominante do período).
Encontramos nos quilombos uma organização econômica, baseada na agricultura de subsistência e uma organização militar complexa, com táticas de guerrilha para enfrentar a coroa portuguesa.
Existiram no Brasil colonial mais de 100 quilombos que se tornaram a principal forma de luta contra o regime colonial explorador. É importante ressaltar que os quilombos representaram os pólos de agregação dos oprimidos pelo antigo sistema reunindo, além dos negros escravizados, índios e brancos pobres.
No processo de resistência contra a opressão e exploração imposta aos escravos negros destaca-se a luta de Zumbi e dos outros combatentes do Quilombo dos Palmares. Estes foram os atores da maior tentativa de constituição de uma formação social negadora do regime colonial baseada na exploração do trabalho escravo. Maior pelo tempo que resiste (1595 – 1695), pelo contingente que abrigou (quase 10 mil quilombolas) e pela área geográfica que abrangeu (Serra da Barriga, atual Estado do Alagoas), local de grandes plantações de cana de açúcar.
Desde os primeiros anos do século XVII, a região nordestina foi palco de lutas de resistências e de fugas de escravos. Porém, foi a partir do início da guerra contra os holandeses (1630 – 1654) que o movimento adquiriu caráter de massa, com a formação de dezenas de mocambos e a constituição do Quilombo dos Palmares. Os negros escravizados aproveitaram bem as contradições e conflitos da classe dominante, o que acarretou um esvaziamento das plantações de açúcar, fato este que causou pânico nos fazendeiros. Os ocupantes fazendeiros enviaram então duas expedições contra Palmares, mas os resultados foram quase nulos.
Palmares era constituído por dezenas de mocambos cada um tinha seu próprio líder. Durante os momentos de perigo se reuniam sob o comando “rei”. O primeiro “rei” foi Ganga Zumba, líder do maior mocambo, o do Macaco, capital de Palmares. Este era protegido por diversas armadilhas mortais, como fojos (buracos cobertos por vegetação no fundo dos quais se armavam paus de ponta), os estrepes (lança de madeira), também escondidas por vegetação. Nos últimos dias havia uma cerca de mais de 5 mil metros.
Em 1678 uma crise econômica impossibilitou o governo colonial manter uma guerra prolongada e custosa contra Palmares. Nesse sentido, o governo tentou buscar uma trégua. Foram oferecidas concessões aos palmarinos, concessões estas que consistiam no direito de os negros escravizados delimitarem um território para viverem em liberdade. Em troca, eles deveriam entregar suas armas e não incentivar mais fugas de escravos. Ganga Zumba defendeu essa proposta. Zumbi não aceitou, e rejeitou a proposta do governador, pois desconfiava do acordo. Depois sua desconfiança se confirma O Conselho Ultramarino,  principal autoridade portuguesa, não admitiu tal proeza, pois era inconciliável para o sistema a existência de um território de negros livres no coração do Brasil.
A guerra recomeça com maior intensidade. O governo então contrata Domingos Jorge Velho. Em 1692, a tropa de Jorge Velho atacou os mocambos, mas foi derrotada. Apenas em 1694, quando receberam reforços, conseguiram realizar o derradeiro ataque a Palmares. Em 5 de fevereiro de 1694, quase  sem munição, Zumbi se retira com sua gente. O mocambo era protegido pelos lados, menos por um que era protegido por um precipício. As tropas inimigas descobriram o precipício e atacaram impiedosamente. Mais de 400 pessoas foram mortas naquela madrugada, a maioria atirada pelo penhasco.
Porém, depois do ataque, Zumbi continuou vivo e comandou um pequeno grupo de homens, mas um de seus homens foi aprisionado e, sob tortura, revelou o esconderijo. Em 20 de novembro de 1695, o grupo foi surpreendido e resistiu bravamente até o último homem. Zumbi estava morto. Seu corpo foi decapitado e sua cabeça espetada na praça principal de Recife.

O Quilombo dos Palmares foi um exemplo histórico de resistência coletiva contra a exploração e opressão racial e de classe. O significado da luta dos quilombolas de Palmares extrapola a questão racial. Naquela luta estiveram reunidos elementos que se contrapunham à ordem escravocrata da época, mas também embriões de uma forma social coletivista, não baseada na exploração do homem pelo homem. Embora os escravos negros constituíssem o principal contingente de lutadores, indígenas e brancos pobres compuseram o quilombo e participaram da resistência.
A experiência de Palmares indica que os explorados e oprimidos são capazes de construir importantes movimentos contra regimes de exploração e opressão. A duração de Palmares e o extremo esforço realizado pelos colonizadores portugueses para a sua destruição dão uma dimensão da capacidade de organização e resistência dos explorados. No mesmo sentido, ensina que estes são capazes de edificar formas de organização nas quais predominem a igualdade e o respeito às diferenças.

Nestes tempos de ataques sem precedentes realizados pelos atuais “senhores escravagistas” contra os trabalhadores, a experiência de Palmares segue como símbolo de luta. Este talvez seja este o seu maior legado e que sirva de exemplo para os atuais explorados e oprimidos.