A história do Brasil, desde o início da
colonização portuguesa, foi marcada por uma acirrada luta de resistência dos
segmentos explorados (indígenas, negros) contra o regime colonial. Nesse
sentido cabe destacar o período de 1530/1888, no qual a luta dos escravos
negros contra a opressão e exploração tiveram uma grande relevância. De um lado
proprietários de terras escravagistas e de outro uma grande massa de escravos. Para
enfrentar essa situação os negros escravizados tiveram como principais armas as
fugas e a organização de quilombos. A organização dos quilombos foi a principal
forma encontrada pelos escravizados para enfrentar as opressões físicas,
econômicas, culturais e morais impostas pelos portugueses (classe dominante do
período).
Encontramos nos quilombos uma organização
econômica, baseada na agricultura de subsistência e uma organização militar
complexa, com táticas de guerrilha para enfrentar a coroa portuguesa.
Existiram no Brasil
colonial mais de 100 quilombos que se tornaram a principal forma de luta contra
o regime colonial explorador. É importante ressaltar que os quilombos
representaram os pólos de agregação dos oprimidos pelo antigo sistema reunindo,
além dos negros escravizados, índios e brancos pobres.
No processo de
resistência contra a opressão e exploração imposta aos escravos negros
destaca-se a luta de Zumbi e dos outros combatentes do Quilombo dos Palmares. Estes
foram os atores da maior tentativa de constituição de uma formação social negadora
do regime colonial baseada na exploração do trabalho escravo. Maior pelo tempo
que resiste (1595 – 1695), pelo contingente que abrigou (quase 10 mil
quilombolas) e pela área geográfica que abrangeu (Serra da Barriga, atual
Estado do Alagoas), local de grandes plantações de cana de açúcar.
Desde os primeiros anos
do século XVII, a região nordestina foi palco de lutas de resistências e de
fugas de escravos. Porém, foi a partir do início da guerra contra os holandeses
(1630 – 1654) que o movimento adquiriu caráter de massa, com a formação de dezenas
de mocambos e a constituição do Quilombo dos Palmares. Os negros escravizados
aproveitaram bem as contradições e conflitos da classe dominante, o que
acarretou um esvaziamento das plantações de açúcar, fato este que causou pânico
nos fazendeiros. Os ocupantes fazendeiros enviaram então duas expedições contra
Palmares, mas os resultados foram quase nulos.
Palmares era constituído
por dezenas de mocambos cada um tinha seu próprio líder. Durante os momentos de
perigo se reuniam sob o comando “rei”. O primeiro “rei” foi Ganga Zumba, líder
do maior mocambo, o do Macaco, capital de Palmares. Este era protegido por
diversas armadilhas mortais, como fojos (buracos cobertos por vegetação no
fundo dos quais se armavam paus de ponta), os estrepes (lança de madeira), também
escondidas por vegetação. Nos últimos dias havia uma cerca de mais de 5 mil
metros.
Em 1678 uma crise econômica impossibilitou
o governo colonial manter uma guerra prolongada e custosa contra Palmares. Nesse
sentido, o governo tentou buscar uma trégua. Foram oferecidas concessões aos
palmarinos, concessões estas que consistiam no direito de os negros
escravizados delimitarem um território para viverem em liberdade. Em troca,
eles deveriam entregar suas armas e não incentivar mais fugas de escravos. Ganga
Zumba defendeu essa proposta. Zumbi não aceitou, e rejeitou a proposta do
governador, pois desconfiava do acordo. Depois sua desconfiança se confirma O
Conselho Ultramarino, principal
autoridade portuguesa, não admitiu tal proeza, pois era inconciliável para o
sistema a existência de um território de negros livres no coração do Brasil.
A guerra recomeça com maior intensidade. O
governo então contrata Domingos Jorge Velho. Em 1692, a tropa de Jorge
Velho atacou os mocambos, mas foi derrotada. Apenas em 1694, quando receberam
reforços, conseguiram realizar o derradeiro ataque a Palmares. Em 5 de
fevereiro de 1694, quase sem munição,
Zumbi se retira com sua gente. O mocambo era protegido pelos lados, menos por
um que era protegido por um precipício. As tropas inimigas descobriram o
precipício e atacaram impiedosamente. Mais de 400 pessoas foram mortas naquela
madrugada, a maioria atirada pelo penhasco.
Porém, depois do ataque, Zumbi continuou
vivo e comandou um pequeno grupo de homens, mas um de seus homens foi
aprisionado e, sob tortura, revelou o esconderijo. Em 20 de novembro de 1695, o
grupo foi surpreendido e resistiu bravamente até o último homem. Zumbi estava
morto. Seu corpo foi decapitado e sua cabeça espetada na praça principal de
Recife.
O Quilombo dos Palmares
foi um exemplo histórico de resistência coletiva contra a exploração e opressão
racial e de classe. O significado da luta dos quilombolas de Palmares extrapola
a questão racial. Naquela luta estiveram reunidos elementos que se contrapunham
à ordem escravocrata da época, mas também embriões de uma forma social
coletivista, não baseada na exploração do homem pelo homem. Embora os escravos
negros constituíssem o principal contingente de lutadores, indígenas e brancos
pobres compuseram o quilombo e participaram da resistência.
A experiência de Palmares
indica que os explorados e oprimidos são capazes de construir importantes movimentos
contra regimes de exploração e opressão. A duração de Palmares e o extremo
esforço realizado pelos colonizadores portugueses para a sua destruição dão uma
dimensão da capacidade de organização e resistência dos explorados. No mesmo
sentido, ensina que estes são capazes de edificar formas de organização nas
quais predominem a igualdade e o respeito às diferenças.
Nestes tempos de ataques
sem precedentes realizados pelos atuais “senhores escravagistas” contra os
trabalhadores, a experiência de Palmares segue como símbolo de luta. Este
talvez seja este o seu maior legado e que sirva de exemplo para os atuais
explorados e oprimidos.
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